"Biblioteca" de Maria Helena Vieira da Silva
Ainda a propósito de livros e do verbo ler, chegou-nos este texto escrito pela professora Alda Gago:
"Considero a aprendizagem da leitura e da escrita um bem inigualável.
Recordo-me de livros que me encantaram quando era criança: contos de fadas , príncipes e princesas onde havia sempre um monstro a enfrentar e vencer. Esses eram livros com ilustrações muito coloridas, capa rija e folhas branquinhas onde eu decifrava a mancha negra da impressão duma vez só, até que todas as histórias fossem desvendadas.
Poucos anos mais tarde li e reli Os Desastres de Sofia da Condessa de Ségur, as aventuras dos Cinco, os livros de Odette de Saint-Maurice. Foi com os seus protagonistas que desenvolvi o gosto pelo passatempo mais cativante que até hoje encontrei – a leitura.
Pela vida fora fui tendo provas de que saber ler e gostar de ler é a melhor forma de amenizar momentos difíceis, momentos de solidão, momentos em que o tempo teima em não passar, mas que um bom livro poderá fazer voar.
Quando hoje me perguntam qual o livro da minha vida, não sei responder.
Em todos descobri coisas novas, com todos fiquei mais rica de emoções e sensibilidade.
É espantoso como me emociono com a actualidade d' Os Lusíadas ou qualquer peça de Gil Vicente. É delicioso ter uma panorâmica da sociedade rural do século dezanove através da obra de Júlio Dinis ou das intrigas citadinas através do olho clínico de Eça. É fantástico ler a prosa de António Vieira e deslumbrante ver como Saramago elogia o povo anónimo no seu Memorial do Convento. É fabuloso descobrir a genialidade de Pessoa, através da sua poesia.
Aos que não descobriram ainda o prazer da leitura, direi que também eu pus muitos livros de lado ou os deixei a meio. Mas isso não pode ser sinónimo de desistência, porque , tenho a certeza, haverá sempre um livro, o tal livro que nos prenda e nos cative de tal maneira que será ele a dar início à grande paixão pela leitura."
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